Em tempos de Erecom esse artigo é muito interessante! Aos estudantes de comunicação, lá vai:
Imagine-se lendo um jornal. Você gosta da forma como o redator conduz as palavras. As reportagens são bem contadas e você até visualiza a cena descrita nas linhas. Depois, você liga a TV. Um rosto bonito apresenta, da bancada, o telejornal. Sua dicção e texto, invejáveis. Irrequieto, você vai ao computador e, num site, lê as notícias. Curtas, leves, informativas. Clica, comenta, opina. Você até envia notícias... Não importa quem escreveu ou apresentou as matérias, você se sente informado. Não lhe preocupa se, ali, alguém tem ou não o diploma de jornalista. Até mesmo porque você supõe que todos tenham. Têm?Eis o ponto em discussão no Supremo Tribunal Federal por esses dias: é necessário diploma para o exercício do jornalismo? Em plena era do webjornalismo, quando, cada vez mais, leitores e jornalistas trocam de papéis, através de blogs ou de seções como “você faz a notícia”, e quando outros milhares de profissionais atuam nas redações, sem sequer ter graduação em nível superior (por força de decisão do STF, de 2006), a Justiça está a um passo de decretar a desnecessidade do “canudo de papel” para se formar opinião. A polêmica reside no princípio constitucional da livre expressão da atividade intelectual e da comunicação, considerado ferido com a exigência do diploma.Acredito ser uma questão de credibilidade. Assim como o diagnóstico médico é mais convincente que o do curandeiro e o laudo da perícia é superior à prova testemunhal, ao relato jornalístico profissional reputa-se maior confiança que ao popular. Fora os motivos técnicos, porque o médico, o perito e o jornalista estão presos, em tese, à ética profissional.A inexigibilidade de diploma traz consigo a desregulamentação da profissão de jornalista, uma vez extintos os requisitos para seu exercício. Além disso, a não exigência dá às empresas o arbítrio de dizer quem é ou não jornalista, já que somente o serão quando, e se, contratados. Estes, sem dúvida, terão uma visão de comunicação, exclusivamente, restrita aos interesses da contratante. Se hoje, com profissionais do meio acadêmico, cientes de seu papel social, o “pensamento editorial” já é fortemente sentido, como não será, quando forem excluídas a técnica e a ética do jornalismo?Entendemos que a livre expressão da atividade intelectual e da comunicação deve ser exercida, inclusive, como já vem sendo feito. Todos os cidadãos podem opinar, escrever, contar fatos e suas visões sobre esses. Afinal, fazemos isso, todos os dias, quando relatamos as situações que presenciamos ou que ouvimos falar. Mas, a atividade profissional de jornalismo, especializada, cumpridora do papel de fiscalização social e de formação da opinião de um povo, não pode, sob pena de engatarmos uma marcha retrógrada jamais vista, prescindir de formação acadêmica própria, de regulamentação e ética profissionais.Pelo contrário, as autoridades deveriam estar discutindo como melhorar os cursos de jornalismo do País, com avaliações mais rigorosas e com o fechamento dos que não estiverem de acordo com padrão estabelecido. Suas excelências poderiam estar planejando em como tirar das mãos de meia dúzia de famílias o império da comunicação social, que torna hereditário o poder político no Brasil. Deveriam estar preocupados em fazer nascer uma comunicação social pública forte, voltada à educação e à formação cultural da Nação e, o mais possível, livre das interesseiras ideologias mercantis e partidárias. Entretanto, como sempre no Brasil brasileiro, é mais seguro – e menos trabalhoso – não cutucar, nem com vara longa, as verdadeiras onças.
* Jornalista formado pela Universidade Federal de Alagoas. Articulista dos jornais Gazeta de Alagoas, O Jornal e Tribuna Independente.
Originalmente publicado no jornal Tribuna Independente, edição de 03 de abril de 2009
Imagine-se lendo um jornal. Você gosta da forma como o redator conduz as palavras. As reportagens são bem contadas e você até visualiza a cena descrita nas linhas. Depois, você liga a TV. Um rosto bonito apresenta, da bancada, o telejornal. Sua dicção e texto, invejáveis. Irrequieto, você vai ao computador e, num site, lê as notícias. Curtas, leves, informativas. Clica, comenta, opina. Você até envia notícias... Não importa quem escreveu ou apresentou as matérias, você se sente informado. Não lhe preocupa se, ali, alguém tem ou não o diploma de jornalista. Até mesmo porque você supõe que todos tenham. Têm?Eis o ponto em discussão no Supremo Tribunal Federal por esses dias: é necessário diploma para o exercício do jornalismo? Em plena era do webjornalismo, quando, cada vez mais, leitores e jornalistas trocam de papéis, através de blogs ou de seções como “você faz a notícia”, e quando outros milhares de profissionais atuam nas redações, sem sequer ter graduação em nível superior (por força de decisão do STF, de 2006), a Justiça está a um passo de decretar a desnecessidade do “canudo de papel” para se formar opinião. A polêmica reside no princípio constitucional da livre expressão da atividade intelectual e da comunicação, considerado ferido com a exigência do diploma.Acredito ser uma questão de credibilidade. Assim como o diagnóstico médico é mais convincente que o do curandeiro e o laudo da perícia é superior à prova testemunhal, ao relato jornalístico profissional reputa-se maior confiança que ao popular. Fora os motivos técnicos, porque o médico, o perito e o jornalista estão presos, em tese, à ética profissional.A inexigibilidade de diploma traz consigo a desregulamentação da profissão de jornalista, uma vez extintos os requisitos para seu exercício. Além disso, a não exigência dá às empresas o arbítrio de dizer quem é ou não jornalista, já que somente o serão quando, e se, contratados. Estes, sem dúvida, terão uma visão de comunicação, exclusivamente, restrita aos interesses da contratante. Se hoje, com profissionais do meio acadêmico, cientes de seu papel social, o “pensamento editorial” já é fortemente sentido, como não será, quando forem excluídas a técnica e a ética do jornalismo?Entendemos que a livre expressão da atividade intelectual e da comunicação deve ser exercida, inclusive, como já vem sendo feito. Todos os cidadãos podem opinar, escrever, contar fatos e suas visões sobre esses. Afinal, fazemos isso, todos os dias, quando relatamos as situações que presenciamos ou que ouvimos falar. Mas, a atividade profissional de jornalismo, especializada, cumpridora do papel de fiscalização social e de formação da opinião de um povo, não pode, sob pena de engatarmos uma marcha retrógrada jamais vista, prescindir de formação acadêmica própria, de regulamentação e ética profissionais.Pelo contrário, as autoridades deveriam estar discutindo como melhorar os cursos de jornalismo do País, com avaliações mais rigorosas e com o fechamento dos que não estiverem de acordo com padrão estabelecido. Suas excelências poderiam estar planejando em como tirar das mãos de meia dúzia de famílias o império da comunicação social, que torna hereditário o poder político no Brasil. Deveriam estar preocupados em fazer nascer uma comunicação social pública forte, voltada à educação e à formação cultural da Nação e, o mais possível, livre das interesseiras ideologias mercantis e partidárias. Entretanto, como sempre no Brasil brasileiro, é mais seguro – e menos trabalhoso – não cutucar, nem com vara longa, as verdadeiras onças.
* Jornalista formado pela Universidade Federal de Alagoas. Articulista dos jornais Gazeta de Alagoas, O Jornal e Tribuna Independente.
Originalmente publicado no jornal Tribuna Independente, edição de 03 de abril de 2009
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